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domingo, 29 de março de 2009

QUEM É MARIA DO CARMO BARCELOS


MARIA DO CARMO BARCELOS E UM AMIGO

Conhecer Maria,foi um dos maiores presentes que Rondônia pode me oferecer.Travamos uma amizade com apenas um olhar.Maria,mãe de Isadora, Mariana,Marlos,Iari e de todo o povo suruí que fez questão de adotar.Maria sertanista,que esteve presente nas mais variadas situações dos povos indígenas da Região,dando a eles o que tinha de melhor:A LEALDADE e CUMPLICIDADE!Geógrafa e voltada para as questões sociais,batalhou e atravéz de seu projeto,Cacoal/RO,tem o CERNIC (P/ trabalhar no desenvolvimento das crianças DA,DM e etc.Maria batalhadora,criou o PACA,visando a integração dos povos Suruís com a sociedade.Maria que dança,que encanta a todos que a conhecem,pela firmeza e também a doçura que transmite.Maria é uma viajante do TEMPO,sempre em busca de conhecimento.E agora a MARIA POETA!Fiquei feliz em poder postá-la,pois Maria é...sempre a Maria que conheci em 1985.

KABUL,CAPITAL DO AFEGANISTÂO____MARIA DO CARMO BARCELOS

Kabul, capital do Afeganistão, se situa em um vale entre montanhas de mais de 3000m de altitude. Estas, no seu entorno, sempre nevadas, são o começo do Hindukush, que por sua vez é uma parte dos Himalaias. Quando o avião se prepara para iniciar a descida, ainda sobrevoando as montanhas altíssimas, pontiagudas e brancas, uma ansiedade brota. A proximidade dos cumes é grande e um universo assustador se impõe. Melhor é não olhar para baixo mas a minha natural curiosidade ultrapassa os limites do meu medo e olho. Olho e fico extasiada com aquela paisagem. Me sinto pequenina e limitada. Penso em que tipo de vida transita por aquelas paragens assustadoras sob o ângulo da minha visão. Devagar as montanhas vão passando... vou passando por elas. De repente o vale do rio Kabul e a cidade..., outrora, grande e importante centro cultural, hoje..., calcinada por guerras sucessivas e heroicamente sendo reconstruída. Vistas de cima, as casas se misturam com a cor do solo. A maioria delas, construídas com o barro do lugar, têm a mesma cor da terra. É bonito ver Kabul do alto mas estou ansiosa para andar em suas ruas, conhecer o seu povo e sentir a atmosfera da cidade, que esteve em tantas manchetes, como alvo, na caça mal sucedida a Osama Bin Laden. Ali naquele lugar, os afegãos protegeram, em algum momento, o seu hóspede. Para os afegãos os hóspedes são protegidos até com a própria vida. Com isto os americanos não contavam ou disto não sabiam. Mas o concreto é que muitos alvos equivocados foram atingidos. Hospitais, escolas e habitações de civis e muitas pessoas morreram.

KÔBUL___MARIA DO CARMO BARCELOS

Um dia você entrou na minha casa
por uma carta... Kôbul tinha o povo
mais digno, jamais visto... assim você entrou na minha casa...
A minha geografia não fora tão longe para trazer você a mim.
Foi a carta...
Imaginei...Kabul...o povo mais digno...Afeganistão...
Tão distante...
Pensei em você mesmo sem lhe conhecer...
Eu nem mesmo sabia direito onde lhe encontrar...
Agora Kôbul...aqui estou
na sua pulsação, no seu coração...
a primeira neve ... o primeiro grande frio...
da janela vejo um pouco das suas casas, da sua gente...a mais digna.
Eu não sabia como caminhar por suas ruas...tinha medo
de não ser o que você queria
de mim...
Envolvi meu corpo com muitos panos...como afghani.
Tinha frio...Coloquei o “tchadór”.
Aqueci-me e me encorajei e saí
tímida...não importa...
decidida...
Queria ver seu rosto perto
do meu.
Tive medos.
Meu corpo tropical esfriou, entonteceu...
Mas agora percebo devagar seu sentimento,
Apalpo seus muros furados por balaços de canhões,
tateio seus botões de rosa aguardando o calor,
para florescer...
Acaricio seus animais da rua, suas crianças, com os olhos...
Sua gente, seus pássaros, suas montanhas, sua neblina,
sua neve, seu sol, sua destruição e seu renascimento...
com os olhos...
Kôbul...Salâm...

Kabul/março/2005

KABUL....IMPRESSÕES____MARIA DO CARMO BARCELOS

Kabul...”barf miborá”...
Meu país tropical não conhece este branco
asséptico, misterioso, mágico...
Inimaginável para minha alma
Acostumada a verde e brilho de sol...
e chuva...
De onde sai esta mágica,
que toma conta de tudo,
se impõe a tudo?
A minha alma
fica impregnada de branco
e se veste de gris.
Onde se escondeu a dor e o medo
das crianças e das mães
quando o clarão e o barulho das bombas
invadiam o céu de Kabul
nestes dias brancos?
O galo cantava?
O “muezim”chamava para a oração?
Oh Kabul...”barf miborá”...

Kabul-março/2005

BRANCA KABUL___MARIA DO CARMO BARCELOS

Branco reluz.
Branco floco que cai.
Se sobrepõe ao branco já.
Branco mais branco que a roupa
de Iemanjá.
Branca Kabul.
Branca, estéril a minha dor.
Branco floco que cai.
Branco o meu amor.
A minha dor.
Branca a minha pouca esperança.
Branca a saudade.
A vontade de ser de outra cor.
Coração branco
aqui em Kabul...
Kabul – março/2005

NEGRO GATO___MARIA DO CARMO BARCELOS

Soroco Negro.
Contraposição.
Extremo.
Deitado na neve branca.
Eu te busco.
Te espreito.
E te chamo.
Querer ardente.
Compensação do que não fiz
pelo Soroco Amarelo Rajado.
Agora uma dor.
Se queres aqui estou.
Pronta para acariciar.
sem tempo contado,
os seus pelos negros.
Contraposição extrema
com a neve branca.
Kabul/março/2005
(O Soroco era um negro gato de rua que avistei pela primeira caminhando sobre a neve que cobria uma parreira no quintal da casa vizinha a minha, no mesmo dia em que recebi a noticia que o Soroco Amarelo Rajado, gato do meu filho, havia morrido)

Afghanis____MARIA DO CARMO BARCELOS


Afghanis...
Ruas brancas.
Sem sombrinhas...
Passos rápidos...
Mulheres...burkas...frágeis protetoras
da ansiedade dos homens
ou da neve que cai?
Nas ruas de Kabul
mulheres coloridas...
embaixo das burkas cinza azul.
Alegres...
Batom e sensualidade.
Nas ruas, passos, um atrás
do outro...
E quem sabe?
E quem são?
Mulheres coloridas
embaixo das burkas cinza azul...
Afghanis...

Kabul/março/2005

Lembrança para um muslim sorridente e amigo___MARIA DO CARMO BARCELOS


Safi uh la
lá, lá, lá...
Do outro lado do mundo,
depois da guerra, depois da paz,
dos acertos e desacertos.
Do Oceano Atlântico,
do outro lado do Brasil...
Safi uh la
lá, lá, lá
você estará com seu sorriso.
Salâm...
Suas lágrimas, sua oração,
no meu coração.

Kabul – março/2005

EM PARIS___MARIA DO CARMO BARCELOS

Não me peçam para ficar.
Eu não ficaria.
Prefiro a simplicidade,
a ingenuidade e o saber intuitivo
do povo que vive no meu ser.
Prefiro o sol tórrido...
E o verde da floresta úmida.
A calma e a violência dos rios
da minha terra.
O fogo que aquece as malocas
nas noites frias.
Prefiro meus pés no chão.
Os pequeninos olhos que fecham
quando o sorriso brota.
Are...meu sentimento.
Paíter...meu coração.
Paris-março de 2005

PARIS/MARÇO DE 2005_________MARIA DO CARMO BARCELOS


Transpor caminhos desconhecidos,
Por mares, espaços de céu, por cima.
Ver um mundo outro, olhar, eternizar...
Chegar em outras cidades.
Sentir o sol, o mesmo
que aquece meu país, na roda
do Universo...
Transeuntes que vão, depressa, devagar,
com ou sem compromissos...
Variação mágica do mesmo tema
em todo o mundo.
Conjunção básica de olhos,
boca,
nariz,
orelhas,
sombrancelhas.
Todas outras, diferentes,
aos milhões...
Eu os olho passar, prescruto...
O que fazem, pensam, sentem?
Transeuntes que vão, depressa, devagar.
Pra onde?
Paris – março de 2005

"Cushis"____MARIA DO CARMO BARCELOS

“Cushis”...
crianças, mulheres, homens...
coloridos com seus camelos
coloridos...burricos coloridos.
Verde, azul, amarelo, roxo...arco íris.
Nômades coloridos.
Tendas negras e lágrimas salgadas.
Pedras vermelhas marcadas
pra ninguém pisar.
Quem “cushi”...pisou, perdeu, morreu.
Bonecas pras meninas.
Quem menina pegou, perdeu, morreu.
Deserto adornado diabolicamente com canhões.
Oásis sem tamareiras.
“Cushis”
Cromobelezura
Pushtun, tadjique, hazará, usbek, turkman
do Afeganistão.
Meus olhos enchem de cor
quando os vejo passar.
Menina colorida,
Cuidado...
não pegue a boneca.
PUM!
Kabul março/2005